quinta-feira, janeiro 18, 2007

Silêncio, por favor!

Só esta semana - eu estando no "santo recesso do meu lar", sem vontade de ouvir os ruídos ordinários do mundo - recebi pelo menos três ligações, oferecendo produtos e serviços: - internet da Brasil Telecom; - uma maravilhoso prêmio das lojas Riachuelo, uma espécie de seguro em que eu tenho à disposição serviços de eletricista e encanador e em que concorro a miraculosos prêmios (sim, essas lojas de departamento agora vendem de torneiras a seguros contra incêndio); o meu lugar no céu ou a chance de me considerar uma pessoa generosa, mediante generosa doação ao Hospital do Câncer (Araújo Jorge).

Peloamordedeus! Eu necessito silêncio. Será que nem na casa da gente se pode ter sossego?! Quando o telefone toca, já sinto medo. Medo de ter que aturar a voz chata dessas operadoras de telemarketing oferecendo coisas ou das prestimosas voluntárias de hospitais e toda sorte de instituições filantrópicas apelando para minha maldita-consciência-pesada. O esforço para dispensá-las é um capítulo à parte. Quem tiver sugestões de formas eficientes de fazê-lo, favor encaminhar aqui para este blog. Em outra oportunidade, publico uma lista de alternativas que recebi uma vez pela internet.

Mas o fato é que acho um tremendo desrespeito essa invasão da vida da gente pelos serviços de telemarketing. Já não basta a gente ser bombardeada na rua por todo tipo de publicidade: fachadas berrantes de lojas, carros de som, cartazes, out-doors, bus-door..., a gente não pode nem ficar sossegada em casa sem que nos ofereçam nada pra comprar? A poluição visual e sonora já é tremenda. Pôxa vida! Eu não quero comprar mais nada e principalmente eu não quero desejar mais nada! Chega de aguçar nosso desejo, nosso apetite, nossa ambição com anúncios, ofertas, proposta irresistíveis e irrecusáveis.

Estou saturada de tanta publicidade. De tempos em tempos, dou um grito, esperneio, como agora. No ano passado ou retrasado, não sei ao certo, eu e o escritor Itamar Pires chegamos a começar uma série de narrativas sobre os Ossilescos, uma gangue dedicada à despoluição da cidade. À noite, montados em opalões pretos, eles saiam despoluindo a cidade, recolhendo cartazes e faixas, pintando out-doors com tinta preta e pregando sobre eles, como uma assinatura, o desenho de uma enfermeirinha com o dedo sobre a boca, pedindo silêncio, feito aquela figura que se vê ainda em alguns hospitais. Acho que vou reinventar esses personagens.
Será pelo menos uma vingança no plano da ficção.

Por Cássia Fernandes

terça-feira, janeiro 09, 2007

Que Omelete, que nada!

Há poucos bares que eu gosto em Goiânia. Um deles é o Omelete Club, um quase-pub com cara de bar da moda, mas gente e som legais. A minha surpresa, ao aparecer por lá essa semana, foram as artimanhas dos garçons – claro, orientados pelo dono – para obrigar a todos os presentes a beber Imperial, a nova cerveja goiana.
Primeiro, disseram que no lugar das costumeiras long necks só havia lata da cerveja Sol ou garrafa de 600 ml da Imperial. Pedi a Sol: estava quente – cerveja quente, num bar, às 22 horas? Depois de ser obrigado a tomar Imperial, eis que começam a aparecer clientes com long necks de Kaiser Summer e Skol nas mãos. Fui ao balcão. Pedi uma cerveja, qualquer uma, que não fosse Imperial. A resposta foi a mesma de horas antes: as long necks de outras marcas estão quentes.
O pior de tudo é que você via o constrangimento na cara dos garçons, tendo que empurrar uma bela porcaria nos clientes da casa. Querem priorizar uma marca, tudo bem: vendam mais barato e deixem o freguês decidir. Mas não sejam desonestos escondendo as outras opções. Na hora de ir embora, reclamei com o dono: “É o patrocinador oficial da casa”, limitou-se a responder. Os clientes? Danem-se. Aqui pra você, ó, Omelete!
PS: a Imperial tem todo o direito de desenvolver uma campanha agressiva de marketing – principalmente depois de lançar a pior cerveja do mundo desde os tempos da antiga Schincariol, a horrível e intragável Mulata. Mas um bar que tem clientes cativos, fiéis, se deixar levar por uns poucos trocados a mais no fim do mês correndo o risco de perder visitantes – como no meu caso – não tem nada a ver.
Por Paulo Galvez

Desburocratiza, Goiás

Em 2002 o então governador goiano Marconi Perillo (PSDB), hoje senador, lançou o Programa de Desburocratização de Goiás. Há até um site com endereço bastante simbólico sobre o programa: http://www.d.goias.gov.br/ – na verdade, trata-se do próprio site da Agência Goiana de Administração. A principal medida foi a criação das lojas Vapt-Vupt, que concentram, em um só lugar, todos os órgãos públicos que prestam atendimento direto ao cidadão. Foi uma das medidas acertadas do ex-governador, entre tantos equívocos.

O problema é que, assim como o restante do país, Goiás não desburocratizou. Os entraves para a solução dos problemas impostos pelo Estado ao cidadão continuam infinitamente superiores às tímidas iniciativas em contrário. Pois vamos ao exemplo prático.

Tive a infelicidade de esquecer de pagar a conta de luz. Nesta segunda-feira, ao chegar em casa no meio da tarde, a energia estava cortada. Voltei ao banco, paguei a fatura e, como os números para contato com a Celg, a Companhia Energética de Goiás, são 0800, liguei do primeiro telefone público que encontrei. O primeiro problema foi justamente completar a ligação – caiu quatro vezes antes que eu pudesse comunicar o pagamento à gentil e robótica atendente. Ao terminar o inquérito sobre minha vida, o robozinho do outro lado disse que eu não poderia requerer a religação de emergência – o que significa retorno em quatro horas – por estar falando de um orelhão. Teria que solicitar somente a ligação normal, realizada em 24 horas, ou encontrar um telefone fixo que não fosse público para pedir urgência. O robô, claro, não soube me explicar o motivo da exigência, afinal, eles não são pagos para informar nem resolver nada. O mais incrível é que a pessoa me disse que eu poderia ligar de qualquer telefone, da padaria, do boteco, do hospital, enfim: não podia ser telefone público, mas podia ser um telefone qualquer que fizessem a gentileza de me emprestar.

Fiz como determinado mas, não satisfeito, tentei obter uma explicação lógica para tamanha burocracia. Mas, depois de 17 tentativas de contato com a ouvidoria da empresa – o número estava sempre com as linhas ocupadas -, desisti e me lembrei do lema do serviço público brasileiro: pra que facilitar se é possível complicar?

Por Paulo Galvez

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Vamos pelo menos espernear! ou Não atirem centavos aos porcos

A proposta deste blog surgiu há algum tempo. Eu, Paulo Galvez e Rimene Amaral inventamos uma maneira de desabafar, de, se não gritar, pelo menos murmurar nossa indignação contra os abusos que sofremos todo o tempo neste país, como consumidores e como cidadãos. Chegamos a criar o blog com esse mesmo título "Chame o gerente". Publicamos alguns textos, mas, logo, envolvidos com outras atividades, acabamos desanimando e abandonamos o projeto.
Essa idéia, porém, nunca me saiu da cabeça e sempre que vejo colocarem em mim o nariz do palhaço ou assisto afixarem nas costas de pessoas próximas o cartaz "meu burrinho carrega carga sem querer", sinto reacender a fogueirinha tímida da indignação. Talvez resolver não resolva. Talvez as palavras publicadas aqui sejam só mais algumas, inofensivas, lançadas aos ventos virtuais. Talvez sejam apenas batalhas imaginárias de consumidores-quixotes contra monstros-moinhos bem reais. Assim mesmo vale à pena.
Ainda não renunciei à birra, a espernear no meio da rua, se não para conseguir o desejado, ao menos para chamar a atenção dos passantes e envergonhar os acompanhantes. Se você tiver ânimo, faça o mesmo. Seu espernear será bem vindo. Talvez alguém nos ouça, talvez a carapuça sirva para alguém. Talvez a gente pelo menos passe vergonha neles.

Malandrocard
A propósito, hoje, para começar, vou espernear contra um dos maiores e piores monstros: as empresas de cartões de crédito. O Malandrocard é um exemplo típico de malandragem. Astuciosamente, inclui na fatura uma tal de Proteção Contra Perda e Roubo. Lembro-me de ter sido informada na própria fatura que o pagamento de tal proteção era opcional, que não era necessário aderir, bastava pagar os dois reais e cinqüenta incluídos. Se eu pagasse, estava protegida. Se não pagasse, não estava. Às vezes, sem ver, pagava; outras lembrava-me de subtrair o valor.
Como em alguns meses acontecia de eu não quitar o valor total, não me dava ao trabalho de verificar na fatura do mês seguinte se eles estavam cobrando juros sobre a tal proteção. É. Quando pagamos juros, perdemos mesmo o controle.
No mês passado, porém, paguei o total do cartão em dia e tive o cuidado de subtrair a tal proteção. Nesse mês veio a interessante surpresa: cobraram 22 centavos de multa sobre o tal valor, sob o título de encargos contratuais.
Telefonei para a administradora. Transferiram duas vezes a ligação para que eu pudesse falar com o setor responsável pelo cancelamento do serviço que eu não solicitei. Uma das atendentes insistiu que eu tinha solicitado o serviço que eu não solicitei. Quando finalmente consegui falar com o setor responsável, ouvi a explicação de que eu deveria ter cancelado o serviço que eu não solicitei.
Quando pedi que cancelassem o serviço que não solicitei e que estornassem a multa cobrada indevidamente, ela mostrou surpresa, como se dissesse: ah, a senhora quer que estornem os 22 centavos, sua unha de fome, sua miserável? E me disse, claro, que iria consultar o setor responsável. Deixou-me esperando mais um bom tempo ao telefone.
Sim, eu desliguei. Me enchi. Danem-se os 22 centavos do mês passado. Mas a partir de agora, terei o cuidado de verificar, centavo por centavo, tudo o que me cobram. Porque, imaginem se fazem isso com todos os seus milhões de clientes. Nossos centavos nas mãos desses porcos são milhões. E não atiremos centavos aos porcos!
Por Cássia Fernandes
eXTReMe Tracker